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Rafael Reis

Badalada geração belga tem um brasileiro. E ele quer voltar à seleção

Rafael Reis

26/10/2015 09h10

A aclamada geração que colocará a Bélgica na liderança do ranking da Fifa pela primeira vez na história no próximo dia 5 de novembro tem uma pitada de Brasil.

Radicado na Europa há cerca de 15 anos e naturalizado belga desde 2008, o atacante paulista Igor de Camargo, 32, que atua no Genk, já conviveu dentro de campo com Hazard, Kompany, Fellaini e companhia e acredita que pode voltar à seleção para a disputa da Eurocopa-2016.

"A minha inspiração é o Ricardo Oliveira [que voltou a ser convocado pelo Brasil aos 35 anos]. Enquanto eu tiver um bom nível de jogo, terei esperança de ser convocado", afirmou o atacante.

Igor, que também passou com destaque por Standard de Liège (BEL), Borussia Mönchengladbach (ALE) e Hoffenheim (ALE), defendeu a seleção nove vezes entre 2009 e o segundo semestre de 2012, quando foi convocado pela última vez.

Nesses três anos vestindo a camisa dos "Diabos Vermelhos", presenciou a transformação de um time mediano para os padrões europeus em uma futura força do futebol mundial.

Igor

"Quando cheguei aqui, o futebol era só força e correria. Aos poucos, foram aparecendo os jogadores de mais qualidade. A gente via que um Hazard, um Kompany, um De Bruyne eram diferentes. Mas eles ainda estavam em times menores, não dava para saber até onde chegariam", conta.

"Não havia essa expectativa de que viraríamos a seleção número um do mundo, mas talento esses meninos tinham."

A aparição de tantos jovens talentosos foi complicando a permanência do brasileiro na seleção. De uma hora para outra, Igor passou a ter de disputar espaço com Lukaku, Benteke, Origi, hoje estabelecidos em times fortes do futebol inglês.

"A concorrência aumentou muito. Fico feliz porque ganhamos muitas oportunidades para o ataque", diz Igor, que retornou à Bélgica em 2013 para tentar uma vaga na Copa do Mundo, mas foi parar no banco do Standard de Liège e perdeu a oportunidade.

Quando perguntado se tem amigos na seleção, Igor destacou a boa relação que tem com o volante Axel Witsel, que atua no Zenit São Petesburgo. Também fez elogios ao comportamento do zagueiro e capitão Vincent Kompany, do Manchester City.

"O Kompany é muito educado, me deu vários conselhos. É uma pessoa super gente boa, bem pra cima. É um cara nota 10."

"EU NEM SABIA QUE ERA BELGA"

Descendente de belgas, Igor desconhecia o passado da família e nem sabia da existência do país que mais tarde viria a defender quando, ainda na adolescência, recebeu uma proposta para fazer testes na Europa.

"Claro que meus pais ficaram com o coração na mão. Morei um tempo com uma família adotiva, que me ensinou a cultura da Bélgica, como lidar com os belgas. Somos amigos até hoje", diz.

Quinze anos depois, Igor está habituado à terra de alguns dos seus antepassados. Fala as três línguas oficiais do país (francês, alemão e flamengo) e conhece "quase todas as cervejas belgas."

"Meu coração é 50% de cada país. É difícil falar que sou brasileiro. Sou tanto brasileiro quanto belga."

Sobre o Autor

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e mestre em comunicação pela Fundação Cásper Líbero, foi repórter da Folha de S. Paulo por nove anos e mantém um blog sobre futebol internacional no UOL desde 2015.

Sobre o Blog

Este espaço conta as histórias dos jogadores que fazem do futebol uma paixão mundial. Não só dos grandes astros, mas também dos operários normalmente desconhecidos pelo público.